Encontrámos hoje no blogue «Bajo el Signo de Libra», criado e mantido a partir da nossa vizinha Espanha, uma entrada sobre um dos nossos poetas preferidos: «António Botto, el poeta de la pasión». António Botto nasceu na Concavada, a poucos quilómetros de Abrantes, a 17 de Agosto de 1897 e morreu por terras brasileiras, em exílio da alma, a 17 de Março de 1959. A sua obra maior é sem dúvida a que se reúne sob o título de «Canções», que durante muitos anos esteve ausente das livrarias. O seu primeiro lançamento ocorreu no já muito distante ano de 1921 e num outro de 1956 (três anos antes da sua morte) cita-se postumamente no frontispício um escrito sobre António Botto, do poeta espanhol Federico García Lorca: "Se a inveja dos inúteis, dos mesquinhos não o larga, Ele não dá importância. Trás nas lindas mãos uma estrela imponderável, aonde o insulto do irracional jamais consegue empanar ou diminuir o brilho da sua intensidade impressionante."Também de Espanha nos chega pela nossa imprensa virtual (o Público online), a propósito do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, a notícia onde se lê que "apesar da polémica política e religiosa — a Igreja promoveu várias manifestações contra a reforma legislativa —, a sociedade civil espanhola sempre esteve maioritariamente a favor do casamento homossexual, com sondagens a confirmarem que esse apoio chegou quase aos 70 por cento, valor que, nos últimos anos, não tem sido sequer medido, empurrando o tema para o palco da normalidade." Faz parte das notícias de hoje do Público e é mais uma que nos faz aumentar a ansiedade pela "normalidade" que também se espera a todo o momento em Portugal.
Se no seu tempo Botto dizia ironicamente que era "o único homossexual reconhecido no País", hoje isso deveria (e deverá) ter cada vez menos importância. Está cada vez mais longe o tempo em que um homossexual tinha que se esconder, em que tinha que viver a sua sexualidade nos antros obscuros das relações promiscuas e clandestinas, em que tinha que se fazer confundir com o melhor dos heterossexuais ou, se assim o preferisse, assumir-se e ser ridicularizado e marginalizado.
António Botto foi um desses homens íntegros a quem devemos muitas das justas mudanças sociais que hoje finalmente se operam aqui e por todo o mundo. Obrigado!
6 comentários:
Completamente de acordo, e ninguém repara nisso; naquele tempo era muito difícil realmente ser-se homossexual.
Apesar da justeza das nossas reivindicações, somos uns privilegiados relativamente a esses tempos e até nos nossos tempos, em tanto local do mundo.
É verdade, mas vamos a ver o que é que deixamos para os que virão depois de nós. Neste aspecto, espero que um mundo melhor!
O Botto tem boa poesia e sofreu muito e muito injustamente por ser homossexual. Morreu pobre e exilado no Brasil por causa disso.
Mas atenção à integridade: tanto quanto sei, nos seus últimos anos, certamente desesperado, terá oferecido ao Cardeal Cerejeira pelo menos um poema celebratório de Fátima, na esperança de que em troca pudesse regressar a Portugal sem sofrer mais por isso.
Parabéns pelo blog e um abraço.
Olá Francisco,
Isso é verdade, é sim senhor. E outras "verdades" lhe poderias juntar, mas tal não retira a Botto a grandeza da sua poesia e a de viver como era, sobretudo naquele tempo tão cinzento...
Obrigado pelo teu comentário e pelo elogio. Nós esperamos encontrar-te por aqui mais vezes. Abraços,
Poco a poco, paso a paso el camino se va andando, así que hoy es un día para felicitar al vecino Portugal y a ver si de una vez también avanzamos en el sentido de nuestras relaciones, y dejamos de vivir de espaldas los unos de los otros.
Gracias pe-jota, pelas felicitações e pelo teu interesse por Portugal - pelas coisas e pelas pessoas do lado de cá dessa linha imaginária que já foi a nossa fronteira comum. Era uma fronteira que nos separava, mas que nos deixava uma grande satisfação quando a passávamos primeiro para visitar Espanha (quantas e quantas vezes o fizemos) e depois para regressar a Portugal. Vamos passar "essa" fronteira mais vezes, vale? Abraço,
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