Às vezes penso, como poderá Portugal dar o passo que deu a Espanha e estender o casamento civil aos homossexuais, quando aqui não temos nenhuma da visibilidade que há no país vizinho, nomeadamente através de marchas de orgulho com centenas de milhares de participantes... Não existe pressão política, nem aceitação social. Existe talvez consentimento comedido, como é próprio de uma sociedade hipócrita como a nossa. Recentemente disseram-me que existe cá um "observatório das sexualidades" e que, segundo estudos realizados por essa entidade, existiriam 30% de portugueses a favor do casamento entre homossexuais (em Espanha a mudança da lei deu-se com 48%) — serão então os 18% da diferença que nos faltam para a mudança da lei? Ou talvez nos baste a justiça do Tribunal Constitucional, onde pára agora o recurso da Teresa e da Lena e onde, como aconteceu na África do Sul (que como Portugal tem uma Constituição que não permite a discriminação pela orientação sexual, mas que ao contrário de nós já legalizou o casamento para casais do mesmo sexo após um casal lésbico ter insistido em recursos até — mais uma coincidência — ao Tribunal Constitucional), se espera uma última sentença nacional. Não percebo os homossexuais que são contra o casamento. Trata-se apenas de uma questão de direitos iguais no acesso a um contrato civil — não é relevante se vamos casar proporcionalmente mais ou menos que os casais heterossexuais e, de igual modo, se nos vamos divorciar mais ou menos depressa. Ao contrário do que possam pensar aqueles que crêem ser avançados e progressistas no seu pensamento, com ideias sobre um estilo de vida alternativo ao heterossexual (que mais não é do que aquele que se lhes permite ter na margem do colectivo), reaccionária é a oposição ao casamento de homossexuais. Por isso, também de pouco serve dizer "sim, sou a favor, mas não estou interessado em casar" — para atingirmos essa meta a primeira parte da frase é suficiente. Será possível que o nosso Tribunal Constitucional, como na África do Sul, largue a bomba e corte caminho? Estaremos em breve, alguns de nós, a assinar certidões nas conservatórias, a trocar alianças e a continuar as nossas vidas com uma maior legitimidade perante a lei?"Parece impossível... com este frio e de manga curta!".
7 comentários:
Muito bem, Gonçalo. Como deves imaginar, estou completamente de acordo contigo e do teu lado. E também não percebo os homossexuais que discordam do casamento: não falo do casamento religioso, mas, como tu, tão simplesmente dos mesmo direitos e reconhecimento legal (sim, o social, será lento como as coisas lentas..., nesta sociedade tão de fachada e hipócrita). Sabes, acho que tem muito que ver com um certo estilo de vida de cert@s gays (que não critico, mas de quem espero uma compreensão igual), além do medo entranhado de que o casamento-contrato possa prender alguém, ou coisa do género.
Ah, e gostei muito da forma deliciosa como terminaste: parece que o frio e a manga curta vão continuar...
Abraços aos dois
Estou de acordo contigo.
Espanha está à nossa frente pelo menos uns dez anos, no que toca à visibilidade e aceitação.
Infelizmente, creio que ainda vamos ter de esperar. Não me parece que o Tribunal Constitucional assuma a ruptura da hipocrisia atávica.
Mas também creio que o espírito do tempo tornará inevitável o reconhecimento desse direito a médio prazo. Mais uns anos...
Abraço
Espanha continua muito à frente de Portugal nestas coisas.
Nunca fui grande adepto do casamento nem é coisa que eu queria para mim mas, qualquer casal, qualquer que seja a sua orientação sexual, deve ter a liberdade de poder fazer essa escolha. É uma questão não só de igualdade, mas também, a meu ver, de direitos humanos.
A luta da Teresa e da Lena continua, seja qual for o desfecho, já disse que admiro muito estas duas mulheres pela coragem de dar a cara e lutar pelos seus direitos. Se elas tiverem sucesso, não são só elas que ganham, somos todos nós. Por isso torço muito pelas duas.
Um abraço.
Claro que terei de estar de acordo com o Gonçalo, mesmo que para mim, o casamento seja um acto não necessário, tenha ele as formas que tiver(hetero ou homo, civil ou religioso), mas que seja livre a opção de o pofer fazer.
Sobre a Espanha e o avanço deles, não só a nós, mas a muitos países evoluídos, conto pôr "no ar" ainda esta semana, algo um pouco "avançado".
Abraços.
Obrigado pela vossa participação, rapazes. Um abraço para os quatro. (Fico atento ao teu "avançado" pinguim).
Concordo com tudo como devem imaginar. Deliciosa de facto a referência à campanha.
Talvez haja um vazio de existência de Portugal, neste momento. Em muitos aspectos, Portugal não sabe ser, apenas vai sendo. Se tal pode beneficiar alguns (os que decidem, geralmente), deixa muitos e muitos outros cada vez mais longe da terra prometida, do Portugal "europeu" (que sempre o foi). Estamos cada vez mais próximos de África. Aqui são cada vez mais as miragens do deserto a nossa única referência... Ou as seguimos (e nunca alcançamos) ou simplesmente vamos navegando à deriva... Sejamos portugueses e europeus, certamente, mas em ambos os casos a 100% e nunca a menos!
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