2009/03/21

when i heard at the close of the day

Há dias. no café de uma livraria do Porto, peguei num exemplar do livro «Cálamo» (colecção Gato Maltez nº 8, da Assírio & Alvim) e levei-o até à mesa onde me encontrava com um grupo de amigos a debater iniciativas pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo. Contei-lhes que este era um dos livros que me ajudou a crescer e nele procurei o poema escrito por Walt Whitman em 1860 que mais gosto de dizer em voz alta. Com a alma na boca disse a tradução portuguesa de «When I heard at the close of the day», e era assim:

Quando soube ao fim do dia que o meu nome fora aplaudido no capitólio, mesmo assim nessa noite não fui feliz,
E quando me embriaguei ou quando se realizaram os meus planos, nem assim fui feliz,
Porém, no dia em que me levantei cedo, de perfeita saúde, repousado, cantando a aspirando o ar fresco do outono,
Quando a oeste, via a lua cheia empalidecer e perder-se na luz da manhã.
Quando, só, errei pela praia e nu mergulhei no mar e, rindo ao sentir as águas frias, vi o sol subir,
E quando pensei que o meu querido amigo, meu amante, já vinha a caminho, então fui feliz,
Então era mais leve o ar que respirava, melhor o que comia, e esse belo dia acabou bem,
E o dia seguinte chegou com a mesma alegria e depois, no outro, ao entardecer, veio o meu amigo,
E nessa noite, quando tudo estava em silêncio, ouvi as águas invadindo lentamente a praia,
Ouvi o murmúrio das ondas e da areia como se quisessem felicitar-me,
Porque aquele a quem mais amo dormia a meu lado sob a mesma manta na noite fresca,
Na quietude daquela lua de outono o seu rosto inclinava-se para mim,
E o seu braço repousava levemente sobre o meu peito nessa noite fui feliz.

4 comentários:

Anónimo disse...

gosto de vir aqui , pois sempre descubro algo novo , gostei :)

Não conheço Walt Whitman, gostei do poema :)

um abraço

Luís disse...

Walt Whitman (1819-1892) é um símbolo nacional norte-americano, é o Poeta dos poetas, é como em Portugal o Luiz Vaz de Camões ou o Fernando Pessoa, ou no Brasil o Machado de Assis, o Oswald de Andrade ou o Jorge Amado. E é giro pensar que o maior poeta dos EUA foi uma homossexual mais que assumido. Abraços e obrigado pelos elogios,

Dário disse...

Há muito que não lia este poema. É impressionante como nos esquecemos de coisas importantes dirante muitos anos.

Hei-de passar por aqui mais vezes.

Luís disse...

Fernando: obrigado pelo que escreveu, que nos pareceu muito bonito. Um abraço, e volte aqui mais vezes, que será sempre um prazer voltar a lê-lo!