2009/08/03

dois homens beijando-se (iv): o beijo do memorial

Este é o beijo que vêem as pessoas que visitam o Monumento Aos Homossexuais Perseguidos Pelos Nazis, em Berlim. Num bloco de betão com 4 metros de altura, os artistas Michael Elmgreen e Ingar Dragset (de que já aqui tínhamos falado) abriram uma pequena janela através da qual se pode espreitar estes dois homens beijando-se. Este memorial sublinha o carácter secretivo que as relações entre dois homens ou duas mulheres tinham que manter... e têm, a maior parte das vezes, que manter; mas, ao mesmo tempo, convida o espectador a ver o beijo de dois homens tal como é — belo e banal, como os outros. Mas o direito a beijar-se (ou dar as mãos ou trocar gestos de afecto) em público, no meio de outros direitos tão importantes entretanto já conquistados, teima em demorar. Demora porque não depende directamente de leis, depende da visibilidade e da habituação. E para que as pessoas se habituem é preciso que os homossexuais se mostrem e se beijem, como no memorial de Berlim. Talvez por isso, por medo que se crie habituação e liberdade, o monumento foi já vandalizado duas vezes (a última das quais em Dezembro do ano passado). O mesmo medo — e o mesmo ódio — terá vitimado ontem dois jovens israelitas num centro de apoio LGBT em Telavive. Só por um beijo, ou por algo de tão belo e banal como isso.

[O vídeo do beijo do memorial de Berlim está nesta ligação ao YouTube e, por tempo limitado, mostra-se na coluna aqui ao lado.]

2 comentários:

João Roque disse...

Gonçalo
o beijo é uma das formas mais belas e ao mesmo tempo mais comuns, de exprimir o amor que se tem por outra pessoa, não importa que seja hetero ou homossexual; claro que esta acepção de "beijo" é muito vasta e há pessoas que condenam o beijo "prolongado e húmido" (esta caracterização saiu-me agora...), em público; pois que seja, mas então condenem esses beijos, quaisquer que sejam as pessoas que os dão, pois se só condenarem os que são dados por pessoas do mesmo sexo, estão expressando a sua homofobia e isso é vulgaríssimo, infelizmente.
Eu, pessoalmente, penso que um beijo "desses" é um acto que é mais normal ser feito na intimidade, mas um beijo nos lábios num reencontro ou numa despedida, feito com a naturalidade das coisas normais, não só não condeno, como o pratico; é assim que faço com o Déjan, quando o vou buscar ou levar ao aeroporto e faria noutras situações se vivesse com ele; mas guardaria, como guardo agora, para a nossa intimidade os outros beijos; exactamente tenho a mesma opinião sobre os beijos ente heterosexuais.
Abraço.

Gonçalo disse...

Eu percebo o que queres dizer pinguim, e concordo contigo. O que me chateia realmente são as pessoas que passam por casais jovens hetero que praticamente fazem sexo em público (às vezes fica bem pouco deixado à imaginação) e está tudo bem, mas se um casal homo se beija no metro (por ex.) cai o carmo e a trindade... A troca de gestos de afecto entre pessoas do mesmo sexo, incluindo um beijo mais prolongado ou húmido, tem que entrar no quotidiano das pessoas!