Por coincidência, dois dos projectos artísticos que mais me interessaram recentemente — a ópera «Faustus, The Last Night» de Pascal Dusapin e o monumento berlinense aos homossexuais vitimados pelo regime nazi (na foto) — tinham em comum a dupla Elmgreen e Dragset, um casal de artistas residente em Berlim. Michael Elmgreen, um dinamarquês nascido em 1961 e Ingar Dragset, um norueguês nascido em 1969, têm vindo a desenvolver, desde 1995, uma obra centrada nas relações entre arte, arquitectura e design, e construída com base na manipulação dos conceitos de 'espaço contentor' e 'objecto contido'. Para a ópera desenharam os cenários: o mostrador gigante de um relógio, cujos ponteiros ameaçam, na representação do tempo que se escoa e limita, a ambição de um Fausto megalómano que desejaria submeter o mundo ao absoluto da sua vontade (um DVD com o registo do resultado deverá estar disponível na Naïve lá mais para o final do ano). Para o monumento conceberam um bloco paralelepípedo em betão, implantado no solo em inquietante desequilíbrio, com uma pequena fresta aberta num vértice, que permite espreitar no seu interior o vídeo de um beijo homossexual em loop ininterrupto. O monumento, que ganhou o concurso lançado pelo governo alemão, deverá ser construído na proximidade do memorial ao Holocausto de Peter Eisenmann. Tal como aparece nas montagens digitais que simulam a obra instalada, o monumento convoca imagens de túmulo e sarcófago, mas também de prisão, bunker e, por associação, de ghetto. E o que contém o receptáculo simbolizado em todas estas variantes de significado? Apenas um beijo, que, como diz a canção, é apenas o que um beijo é.
2006/08/29
elmgreen & dragset
Por coincidência, dois dos projectos artísticos que mais me interessaram recentemente — a ópera «Faustus, The Last Night» de Pascal Dusapin e o monumento berlinense aos homossexuais vitimados pelo regime nazi (na foto) — tinham em comum a dupla Elmgreen e Dragset, um casal de artistas residente em Berlim. Michael Elmgreen, um dinamarquês nascido em 1961 e Ingar Dragset, um norueguês nascido em 1969, têm vindo a desenvolver, desde 1995, uma obra centrada nas relações entre arte, arquitectura e design, e construída com base na manipulação dos conceitos de 'espaço contentor' e 'objecto contido'. Para a ópera desenharam os cenários: o mostrador gigante de um relógio, cujos ponteiros ameaçam, na representação do tempo que se escoa e limita, a ambição de um Fausto megalómano que desejaria submeter o mundo ao absoluto da sua vontade (um DVD com o registo do resultado deverá estar disponível na Naïve lá mais para o final do ano). Para o monumento conceberam um bloco paralelepípedo em betão, implantado no solo em inquietante desequilíbrio, com uma pequena fresta aberta num vértice, que permite espreitar no seu interior o vídeo de um beijo homossexual em loop ininterrupto. O monumento, que ganhou o concurso lançado pelo governo alemão, deverá ser construído na proximidade do memorial ao Holocausto de Peter Eisenmann. Tal como aparece nas montagens digitais que simulam a obra instalada, o monumento convoca imagens de túmulo e sarcófago, mas também de prisão, bunker e, por associação, de ghetto. E o que contém o receptáculo simbolizado em todas estas variantes de significado? Apenas um beijo, que, como diz a canção, é apenas o que um beijo é.
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