2007/07/16

notas de viagem I: la passion de simone

Numa sucessão mais ou menos desconexa de momentos geram-se às vezes coincidências, que formam pequenas cadeias de sentido, que dão forma às nossas vidas. Eis uma delas: No Inverno de há dois anos, como presente de aniversário, o Luís ofereceu-me o DVD «L'Amour de Loin», uma ópera de Kaija Saariaho cujo libreto alude de alguma forma à história da nossa relação. Na Primavera deste ano, com umas férias nas Canárias já quase marcadas, visitei o dermatologista para um exame de sinais que resultou numa pequena intervenção cirúrgica, na diminuição do orçamento disponível e na contra-indicação do excesso de exposição ao sol. Alterámos então o nosso destino para Londres, o lugar de uma antiga promessa, que agora, no ano dos nossos 20 anos, fazia todo o sentido enfim cumprir. Foi então, quando procurava espectáculos em cartaz na capital inglesa, que descobri «La Passion de Simone» [Weil], uma oratória para solista, coro, electrónica e orquestra, que, como o «L'Amour de Loin» do DVD que o Luís me tinha dado, era composta, encenada, escrita e cantada, respectivamente por Kaija Saariaho, Peter Sellars, Amin Maalouf e Dawn Upshaw. Poderia fazer o elogio da obra, de uma enorme sensibilidade, mas que não teve crítica unânime, ou explicar porque me escapa a lógica dos argumentos com que se criticou a confluência de sentido entre texto, música e encenação; ou ainda sublinhar o privilégio de ter ouvido Dawn Upshaw, recuperada de quimioterapia para cancro da mama, no papel que Saariaho escreveu para ela e que só agora, depois de substituída para a estreia em Viena, pôde cantar. Mas não, fico-me pelo fechar do círculo, do DVD para o espectáculo em Londres, no ano dos nossos 20 anos, com tanta coisa a acontecer.

[A foto acima é da produção de Viena.]

3 comentários:

João Roque disse...

Foi realmente muito bom o vosso encontro com um espectàculo, que parecia "estar ali,esperando por vós".
Abraços.

Gonçalo disse...

Olá pinguim, foi mesmo isso que eu achei. E depois houve o Marc Almond, mas esse vou deixar que seja o Luís a escrever sobre ele. O Luís diz que não sabe se voltará a Londres, mas eu estou certo que sim, voltaremos. Abraço.

Luís disse...

Eu disse e repito que não sei se voltarei a Londres porque... porque já lá estive três vezes e não viajo assim tanto que me faça trocar Londres por outros destinos que gostaria de conhecer (Amesterdão, Canárias, Nova Iorque, Tóquio, Reiquejavique, Viena) ou onde desejaria ainda voltar (Paris, Barcelona, Munique, Atenas, talvez Veneza). Mas, agora que já se passou um mês sobre o nosso regresso, confesso que me apetecia voltar a Londres muito em breve. Só que não tenho essa sorte persistente do Pinguim...