Não gosto da expressão "casamento homossexual" nem de "casamento gay". Nesta questão que ressurgiu nos últimos dias por via das propostas legislativas do Bloco de Esquerda (BE) e do Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) trata-se, de facto, de alargar o acesso ao casamento aos casais gay, ou homossexuais, mas a expressão presta-se a confusões, porque não só não se pretende um casamento especial, como nada se ganha em criar na cabeça das pessoas menos informadas imagens hollywoodescas de bodas estilo "gaiola das malucas". Falemos então do acesso ao casamento para pessoas do mesmo sexo — é politicamente correcto, é verdade, mas o politicamente correcto muitas vezes é mesmo o mais correcto. Tem sido comentado, aqui e ali, que o Bloco de Esquerda e os Verdes foram inoportunos, que não prepararam o terreno para que as suas propostas de lei possam efectivamente ser aprovadas, que estão mais preocupados em desafiar o PS... No entanto a proposta aí está, porque não passá-la? A Juventude Socialista é a favor, a Juventude Social Democrata é a favor, parte da bancada socialista é a favor, são-no também, obviamente, o BE e o PEV, e talvez até uma parte dos deputados do PSD, do CDS/PP e do PCP. Qual é então o problema, o termo "casamento"? A palavra deriva de casa, nada tem de religioso, não há razão para criar uma designação especial (uma discriminação por palavras) para um casal ("casa") de homens ou um de mulheres. Estará a dificuldade, no que diz respeito ao PS, em fazer justiça e conceder um direito não anunciado previamente no programa de governo votado nas eleições? Mas será que os eleitores do PS não estarão já habituados a ouvi-lo aliciar eleitores com o alargamento do casamento civil aos casais do mesmo sexo, prometendo a sua concretização em sucessivos adiamentos... Ou então é, talvez, a urgência e primazia da política económica, como se um assunto inviabilizasse o outro. Ou foi o "aborto", uma questão fracturante, que acabou com a quota-parte de questões fracturantes aceitáveis num só mandato... Tenham juízo e, sobretudo, tenham vergonha na cara. A altura é ideal. No dia 10 de Outubro, façam passar a proposta de lei do BE — a do Bloco de Esquerda, sim, porque a dos Verdes, vá-se lá saber porquê, perpetua a homofobia, impedindo o acesso à adopção. Seria como tirar um penso rápido — "scrrt!" — dói um bocadinho no instante, mas depois passou e ficamos todos bem.
2008/09/23
como um penso rápido
Não gosto da expressão "casamento homossexual" nem de "casamento gay". Nesta questão que ressurgiu nos últimos dias por via das propostas legislativas do Bloco de Esquerda (BE) e do Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) trata-se, de facto, de alargar o acesso ao casamento aos casais gay, ou homossexuais, mas a expressão presta-se a confusões, porque não só não se pretende um casamento especial, como nada se ganha em criar na cabeça das pessoas menos informadas imagens hollywoodescas de bodas estilo "gaiola das malucas". Falemos então do acesso ao casamento para pessoas do mesmo sexo — é politicamente correcto, é verdade, mas o politicamente correcto muitas vezes é mesmo o mais correcto. Tem sido comentado, aqui e ali, que o Bloco de Esquerda e os Verdes foram inoportunos, que não prepararam o terreno para que as suas propostas de lei possam efectivamente ser aprovadas, que estão mais preocupados em desafiar o PS... No entanto a proposta aí está, porque não passá-la? A Juventude Socialista é a favor, a Juventude Social Democrata é a favor, parte da bancada socialista é a favor, são-no também, obviamente, o BE e o PEV, e talvez até uma parte dos deputados do PSD, do CDS/PP e do PCP. Qual é então o problema, o termo "casamento"? A palavra deriva de casa, nada tem de religioso, não há razão para criar uma designação especial (uma discriminação por palavras) para um casal ("casa") de homens ou um de mulheres. Estará a dificuldade, no que diz respeito ao PS, em fazer justiça e conceder um direito não anunciado previamente no programa de governo votado nas eleições? Mas será que os eleitores do PS não estarão já habituados a ouvi-lo aliciar eleitores com o alargamento do casamento civil aos casais do mesmo sexo, prometendo a sua concretização em sucessivos adiamentos... Ou então é, talvez, a urgência e primazia da política económica, como se um assunto inviabilizasse o outro. Ou foi o "aborto", uma questão fracturante, que acabou com a quota-parte de questões fracturantes aceitáveis num só mandato... Tenham juízo e, sobretudo, tenham vergonha na cara. A altura é ideal. No dia 10 de Outubro, façam passar a proposta de lei do BE — a do Bloco de Esquerda, sim, porque a dos Verdes, vá-se lá saber porquê, perpetua a homofobia, impedindo o acesso à adopção. Seria como tirar um penso rápido — "scrrt!" — dói um bocadinho no instante, mas depois passou e ficamos todos bem.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
Muito bem, querido Gonçalo, muito bem! 1000 beijos,
Se o PS incluiu no programa eleitoral, cabe aos eleitores que votaram nele, ir à A.R. e exigir a sua devida execução.
Que se assegure os iguais direitos de qualquer união civil entre duas pessoas adultas, inclusive o nome.
Este país quer continuar a pertencer à Idade média?
Quanto ao activismo, dado que a política e os políticos não são de fiar: onde estão as associações, as revistas, os publicitários, os media, as pessoas de cabeça arejada que esclareçam o cidadão comum do que está em causa?
Ou é só na campanha eleitoral dos EUA que há anúncios pagos?
Ou é só para os Arraiais que fazem publicidade?
Assunto complexo, sem dúvida; também não gosto da frase "casamento homossexual", mas onde arranjar outra?
Acho que o grande problema dos partidos é o não permitirem a liberdade de voto e aqui o PS sai manifestamente mal na fotografia.
Abraços.
Custa-me profundamente este periodo de espera...concordo com o enGine, esta devia ser a altura em que mais do que nunca as associações SÉRIAS deviam arejar a cabeça e as ideias dos portugueses, desfazer preconceitos e ideias erradas do que será o casamento. ´incrível a ignorancia que se vive sobre determinados assuntos neste país "à beira mar plantado". Se houvesse um momento da verdade com um convidado gay, aposto que teria sucesso...in-felizmente. Mas muito sinceramente não estou muito crente...bem, menos crente estava se tivesse que ir a referendo...aí até medo teria. Pessoalmente seria um grande desejo meu que fosse aprovado, exactamente igual como os casamentos civis heterossexuais, mas assim exactamente...
A expressão tem vingado na linguagem comum por facilidade, penso eu, e estas coisas têm muita força, mas presta-se a interpretações melífluas que não são de todo inocentes.
Concordo em pleno com o que dizes.
Mas acho que não temos sorte. Esta 'direcção' do PS não quer mesmo a questão para esta legislatura.
enginethrobs, o PS, como lhe convinha, não incluiu a igualdade no casamento explicitamente no programa mas, num capítulo que designaram "Famílias, igualdade e tolerância", incluíam como último ponto "Política de não discriminação". A ideia estava lá implícita. Agora já começam a falar em alargamento dos direitos nas uniões de facto para a próxima legislatura. Mas eu não lhes dou segunda oportunidade. A hipocrisia é demais. Se não votam agora para passar o projecto de lei, o meu voto nas próximas eleições vai para o BE.
pinguim, acho que há um só casamento, o acesso ao dito é que pode ser só para heterossexuais ou, como se pretende, para todos. Quanto à complexidade da questão, acho que já lá vão anos e anos de discussões, e não vejo argumentos válidos contra. Por isso é que este era um momento ideal, fazia-se e pronto.
emanuel, o referendo é obviamente absurdo, só estão envolvidos os direitos dos casais que querem casar e não podem. Não há prejuízo para ninguém ou para nada.
rui:alexandre, também acho que a expressão, muitas vezes, não é usada inocentemente...
Obrigado pelos vossos comentários.
Abraços.
obviamente que não é o casamento que tem de ser gay ou homossexual. quando muito, será permitir que pessoas no mesmo sexo se unem, casem... não tem de haver qualquer excepção ou regime especial. a única coisa especial é deixar-nos ser como os outros, os heteros. engraçado, que já verifiquei que alguma comunicação social não diz casamentos homossexuais, mas, sim, casamentos entre homossexuais.
Enviar um comentário