Faz agora três anos que morreu a Gisberta e para o assinalar o Grupo de Reflexão e Intervenção do Porto (GRIP) da associação ILGA Portugal organiza o debate «Lembrando Gisberta: Identidade de Género e Cidadania», que tem lugar no Clube Literário do Porto, sábado dia 21, a partir das 15h30. Estarão na mesa o psicólogo, investigador e activista LGBT independente Dr. Nuno Carneiro, o interno de psiquiatria do Hospital de Júlio de Matos Dr. João Tavares, o advogado estagiário Dr. Ricardo F. Diogo e a representante do GRIP Luísa Reis, além da moderadora Drª Salomé Coelho, doutoranda em Estudos Feministas.O comunicado do GRIP acrescenta ainda:
Em Fevereiro de 2006, Gisberta Salce Júnior foi encontrada morta numa obra abandonada no coração do Porto. Era mulher, transexual, e excluída.
Foi insultada, humilhada, agredida e violentada ao longo de vários dias, e finalmente atirada para um poço onde morreu afogada. Os responsáveis foram um grupo de 14 adolescentes entre os 12 e 16 anos de idade. A maioria deles estava ao cuidado da mesma instituição de acolhimento de menores tutelada pela Igreja Católica.
Exposto o caso, os responsáveis pela morte de Gisberta foram julgados no Tribunal de Família do Porto. A sentença considerou que ela não tinha sido vítima de homicídio, antes o seu cadáver – ainda vivo – ocultado; o motivo não foi determinado, mas o tribunal excluiu a possibilidade de se tratar de transfobia. Afirmou também que o que se tinha passado tinha sido 'uma brincadeira de mau-gosto que correu mal'.
Gisberta nunca foi reconhecida como mulher pelo Estado português, e foi essa mesma falta de reconhecimento que não a deixou ser cidadã. A sua morte bárbara foi o ponto final que pôs a descoberto a exclusão sobre a qual foi forçada a construir toda a sua vida.
Três anos depois, nada mudou: o estado português continua a recusar-se a reconhecer a identidade e cidadania das pessoas transexuais, e nenhum partido apresentou qualquer proposta de Lei de Identidade de Género.
Cabe a nós, aos cidadãos e à sociedade civil, denunciar a mais extrema forma de violação dos direitos humanos – a supressão da própria identidade e cidadania – e exigir a mudança.
Dia 21 de Fevereiro, às 15:30h, juntem-se a nós – para que não nos esqueçamos, e para que nunca mais façam Gisbertas de qualquer um de nós!
6 comentários:
Terceiro aniversário de um acto sinistro...
Caramba... Com todo o respeito: no texto do GRIP a gramática também foi assassinada.
Pinguim: Apesar de todos os desenvolvimentos que vêm questionar a justiça que se tentou fazer, o significado desta acção do GRIP procurava também reflectir sobre "a identidade e cidadania das pessoas transsexuais". Se à maioria de nós este não é assunto que nos preocupe directamente, não deixa de ser nossa obrigação social reflectir sobre ele e tentar encontrar e propor soluções.
Daniel: No bocadinho de texto do GRIP que citei agora mesmo aí acima, na mensagem para o Pinguim, espero não ter despercebidamente 'assassinado' mais uma vez essa famosa gramática!
Este caso é uma vergonha e serei sempre o primeiro a dizê-lo...mas por amor da santa, a referência ao facto dos assassinos serem de uma escola católica tresanda à Igreja Bloco de Esquerda e ao jacobinismo militante,irracional e tão persecutório deste tipo de associações. Já cansa.
Miguel: Fica presente a opinião, que certamente chegará por esta via ao conhecimento da fonte do texto citado (o GRIP). Mas também - caso entendas ser o local mais adequado - poderás seguir a ligação no título e deixar lá, na origem, o registo do teu comentário. Tu e todos os que tiveram ou venham a ter também algo a dizer. Para ti ainda, os parabéns pela Menção Honrosa... Um abraço,
Extra para o Daniel, o Miguel e a quem possa também interessar: O GRIP teve conhecimento das vossas opiniões e confirma-se que o blogue do Grupo de Reflexão e Intervenção do Porto da ILGA Portugal é (sempre) o melhor sítio para deixar comentários sobre os seus comunicados e as suas acções. Esperamos que que o façam, agora e sempre que entendam. Obrigado,
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