2009/09/13

cegueira ou falta de pudor?

"Debate final mantém empate entre Sócrates e Ferreira Leite. Desengane-se quem pensava que ia conseguir perceber, através do frente-a-frente televisivo entre José Sócrates e Manuela Ferreira Leite ontem transmitido pela SIC, quem será o vencedor das eleições de 27 de Setembro. A forma como ambos os líderes se apresentaram no debate foi equilibrada e não houve de parte a parte nenhuma distracção que liquidasse a sua imagem (...)". É assim que a jornalista São José Almeida abre um artigo (destacado na primeira página do sítio do Público) sobre o debate que ontem juntou frente a frente José Sócrates e Manuela Ferreira Leite. Que o debate não nos diz quem vai ganhar já se sabe como já se sabia, razão pela qual quem pensava que dito resultado lhe seria revelado ontem na SIC estava, de facto e como bem diria La Palisse, enganado. Mas a forma como ambos se apresentaram foi "equilibrada"? E não houve distracção?... Se não que "liquidasse", pelo menos que abalasse a imagem? Será que não vimos exactamente o mesmo debate, em que um para o bem e para o mal se compromete; e a outra diz que sim, que não e que talvez, que é branco e é preto e também cinzento? E já nem falo na falta de tacto das investidas contra Sócrates, seja nas pouquíssimo diplomáticas referências aos vizinhos espanhóis a propósito do TGV (que já mereceram, de resto, comentários jornalísticos e oficiais de Espanha, e um diz-que-não-diz de Ferreira Leite), ou no inesquecível "O Senhor Engenheiro parece aquele que mata os pais para dizer que é órfão"?... Há um grau de interpretação e subjectividade possível numa análise, claro, mas desculpem lá (Sócrates e Casamento à parte) isto ou é cegueira ou absoluta falta de pudor.

[A ilustração é da autoria de João Coisas, para o SIMplex.]

3 comentários:

João Roque disse...

Eu tenho uma ideia muito concreta sobre os debates televisivos destas legislativas: Sócrates, de longe o mais bem preparado, até pela prática dos debates mensais na AR onde é atacado por tudo e por todos; Portas, com o qual não alinho de forma alguma, ideologicamente e com o seu conhecido populismo, é apesar de tudo e objectivamente um político que sabe o que quer; Louçã, até aqui o "deus" dos contestatários, começa a perder a aura, com a febre dos votos e começa a ser tão demagogo como os demais; J.Sousa, pouco à vontade na TV, onde lhe falta a "camaradagem" dos comícios, só sabe a k7 e foge a assuntos específicos, e MFL, um caso nítido de uma péssima prestação televisiva: pouco ou nada simpática, mal preparada e perfeitamente retrógrada nos conceitos.
Claro que toda a gente sabe que só dois partidos podem ganhar as eleições e esses dois partidos jogaram na conquista dos votos dos indecisos. Se no confronto com Louçã procurou votos na esquerda e o conseguiu de certa forma, já MFL não teve o mesmo sucesso à direita, com Portas; neste último debate estavam em causa os indecisos do "centrão, que muitas vezes designam o vencedor e foi aí que Sócrates jogou e venceu claramente MFL, mostrando as enormes diferenças entre a MFL governativa e a de líder de oposição.
O resultado vai decidir-se na campanha, e quem tiver menos gaffes é beneficiado e aí MFL é muito "prejudicada".

Gostei muito do discurso, breve e incisivo de MVA na convenção do PS.

Abraços e desculpem o testamento...

Gonçalo disse...

Os teus "testamentos" são sempre bem vindos, e a tua análise é muito lúcida. Tenho pena de não ter visto o discurso do MVA. Quanto à campanha que agora se desenrola (falo por mim, mas penso que é também a opinião de quem não quer ver MFL como Primeiro Ministro), há que pôr mãos à obra!...

Abraço.

Gonçalo disse...

PS: Entretanto vi e ouvi o discurso do Miguel Vale de Almeida, que acrescentei no espaço video na coluna aqui ao lado, para ficar disponível até ao dia das eleições.