2009/11/04

a cartada do referendo

Nem o Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, nem o deputado do CDS-PP, Ribeiro e Castro, defendem o referendo sobre a igualdade no acesso ao casamento civil porque acreditem que é matéria que democraticamente deva ser referendada. Os direitos não se referendam, muito menos os de uma minoria, ponto final. O que tanto D. Manuel Clemente como Ribeiro e Castro sabem, é que a campanha para um referendo sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo daria o espaço necessário à exploração da homofobia e dos medos sobre o acesso de casais homossexuais à adopção. A criação de um circo referendário em torno dos direitos civis da minoria homossexual facilitaria, talvez, uma vitória do Não e, portanto, a interdição do casamento civil aos casais do mesmo sexo. Acontece que direitos não se referendam e muito menos os de uma minoria. Mais, se o argumento é o do debate, a questão tem vindo a ser discutida há vários anos, com especial intensidade em 2008 por motivo dos projectos de lei apresentados pelo BE e pelos Verdes em Outubro do ano passado. Se o argumento (rebuscadíssimo) é o da falta de legitimidade de uma maioria relativa do PS para mudar a lei, então não esqueçamos que a muito clara, noticiada e debatida intenção do PS de legislar sobre a matéria constava do programa eleitoral que foi a votos e ganhou. Mas a intenção de legislar no sentido de permitir o "casamento gay" também faz parte, se não explicita pelo menos implicitamente, dos programas do BE e de Os Verdes, como os eleitores que votaram neles bem sabem. A lei só passará se os votos destas três forças, em constituição de uma maioria absoluta de representatividade democratica e legitimamente concedida, assim o permitirem. Finalmente, se o argumento é o da comparação com o referendo sobre a IVG, não ignoremos que quando se discutiu interrupção voluntária da gravidez se discutiu um conceito bio-ético de vida e de direito à vida em colisão com os direitos das mulheres e, em certo sentido, dos homens, em geral. O direito dos homossexuais à igualdade perante a lei é garantido pela Constituição e deve traduzir-se na igualdade no acesso ao casamento civil, direito esse que em nada afectará o direito ao casamento já existente para os casais heterossexuais — que para nenhum efeito legal e vinculativo, portanto, têm de se pronunciar sobre o assunto.

5 comentários:

Anónimo disse...

Palavras acertadas!
Acho que só falta mesmo ter calma e esperar pela data, mas nunca fiando na Virgem e muito menos nos católicos do PS! ;)

João Roque disse...

É evidente que o referendo só pode interessar à direita e à igreja, e por motivos óbvios e de maior alcance do que a discussão pública do assunto, e esses motivos são "apenas" o chumbo da lei, pois toda a gente sabe que referendada, a lei nunca será ganhadora. Mas, como bem dizes, um referendo nunca é solução para um direito e não venham a dizer que ele é a forma mais oura de expressão popular...é o tanas!!!
Gostei de ouvir hoje Francisco Assis dizer que o referendo nunca foi sequer equacionado pelo PS e o senhor Engine tem que pôr de lado esses resquícios de anti PS e acreditar mesmo que a coisa vai a bom porto, entendido?
Abraços para os três...

Gonçalo disse...

Obrigado pelo teu comentário, engine. Notícias de hoje dizem que o PS vai impor disciplina de voto nesta matéria.

Obrigado a ti também, pinguim. A ideia do referendo parece querer ganhar força, mas acredito que não prevalecerá.

Abraços.

Anónimo disse...

o senhor enGine é desconfiado por natureza... :)
e então quando diz respeito a políticos, pior ainda.
Eu conheço-os, ou melhor, eu ando num os meios onde eles são criados e sei muito bem como são, desde uma ponta à outra do espectro político.

Nunca consigo esquecer-me duma série de televisão sobre o nazismo: as pessoas nunca acreditaram que o Adolfo fosse fazer o que fez...

Acho bem que o PS imponha TAMBÉM AGORA disciplina de voto nesta matéria. Ai como é tão ter maioria relativa, agora já é preciso ter juizinho!

Mas continuo a dizer que faz a história são as pessoas que se dedicam a defender as suas causas.

Abraços a todos e continuo à espera dos convites! ;)

Luís disse...

Pois!...