Num dia de chuva que marca o fim do meu Verão, recordo Luis Cernuda, poeta espanhol nascido em 1902 nessa incontornável Sevilha, leitor e seguidor de Keats e de Gide, combatente antifascista na Guerra Civil, vanguardista no seu tempo, exilado em Inglaterra e, depois, no México que o levaria por fim deste mundo em 1963. Ficou ligado ao movimento intelectual e literário que incluía Federico García Lorca e se designou Geração de 27. Marcado por uma solidão e um desterro que poucos ousariam combater numa Espanha franquista e puritana, «Los Placeres Prohibidos» — de onde se mostra o poema «Os Marinheiros São as Asas do Amor» — é uma obra adiantada para o seu tempo, com marcas de surrealismo e uma óbvia sexualidade que Cernuda mais procura defender que esconder:Os marinheiros são as asas do amor,
São os espelhos do amor,
O mar acompanha-os,
E os seus olhos são dourados como o amor
É dourado em seus olhos.
A alegria viva que lhes corre nas veias
É também dourada,
Semelhante à própria pele;
Não os deixes partir porque seu sorriso
É como o sorriso da liberdade,
Luz resplandecente aberta sobre o mar.
Se um marinheiro é um mar,
Dourado mar amoroso cuja presença é um cântico,
Não quero a cidade construída de sonhos cinzentos;
Quero apenas deitar-me ao mar e naufragar,
Barca sem norte,
Corpo à deriva afundar-me em sua luz de oiro.
«Os Prazeres Proibidos» apareceram em Portugal numa edição de 1985, pela Hiena Editora, de onde transcrevo o poema vindo à página 18. Acima, na foto, está o poeta junto ao mar de Castropol, numa memória do Verão de 1935, que pode ser consultada com mais detalhe pelo link do título. Havendo vontade recomendo ainda a leitura de «Birds in The Night» que foi escrito em Londres na mesma casa onde Cernuda habitou depois de nela terem vivido (bem) juntos Rimbaud e Verlaine. A «Pena Capital» de Mário Cesariny (no meu exemplar de 1982, que veio à luz pela edição da Assírio e Alvim) trás uma tradução a páginas 219 a 221.
2 comentários:
Foi uma geração fabulosa, essa de grandes nomes da vizinha Espanha.
Embora Lorca colha quase sempre as maiores referências, Cernuda foi também um nome importante.
E o que é curioso é a "ousadia" desses homens em assumir comportamentos assim, nuns tempos tão difìceis.
Abraço.
Sem dúvida, amigo.
Obrigado pelo teu comentário.
E um abraço colectivo!
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