2006/01/23

das märchen

A ópera sempre me fascinou, digo-o sem qualquer pretensiosismo — gosto do conceito de 'obra de arte total' e da extrema artificialidade do género que, por isso mesmo, potencia símbolos, significados e mitos. E gosto particularmente de ópera moderna, ou contemporânea, porque acredito que a arte que se faz no tempo das nossas vidas é mais importante (não necessariamente melhor) do que a que fez história. E acho que as óperas, como os bons romances, devem ser um pouco enfadonhas e difíceis ("desconfia do que é fácil") — só há verdadeira fruição da arte com esforço e espaço para o enigma e a interpretação. Mas não é habitual a produção de ópera contemporânea em Portugal: lembro-me só de «O Corvo Branco» de Philip Glass e «Os Dias Levantados» de António Pinho Vargas, para a Expo 98; do «Melodias Estranhas» de António Chagas Rosa, para o Porto 2001 ou do «Punch And Judy» de Harrison Birtwistle no S. João. Por tudo isto é com entusiasmo que descubro que o mais celebrado dos nossos compositores contemporâneos, Emmanuel Nunes, irá estrear a sua primeira ópera em Novembro, no São Carlos. Com libreto do próprio compositor, a partir de um conto de fadas de Goethe intitulado «Das Märchen» (precisamente «O Conto» ou «O Conto de Fadas»), a obra é povoada por uma serpente verde e outras criaturas fabulosas. A direcção fica a cargo de Peter Rundel e a encenação é de Giorgio Barberio Corsetti, com interpretação da Orquestra Sinfónica Portuguesa, o Coro do TNSC, o Remix Ensemble e a Companhia de Bailado NN. A ópera «Das Märchen», co-produzida pelo São Carlos, a Gulbenkian, o IRCAM e a Casa da Música, parece ter tudo para cantar e encantar.

Sem comentários: