2006/01/10

elogio da segunda volta

Há muito ruído em torno das iminentes eleições presidenciais: um candidato a fazer campanha com trunfos que não interessam para o lugar, dois outros a apunhalarem-se nas costas, um que de tanto se dirigir às minorias parece oportunista, outro ainda que passa despercebido, e mais dois ou três que nem percebi quem são. Das mais recentes sondagens se conclui que uma grande parte da população anda à procura de um novo primeiro-ministro, mas o cargo é o da Presidência da República! Será que um economista sem poderes executivos e sem dotes diplomáticos é útil em Belém? E um poeta?... Há muita coisa que se podia discutir mas nem se aborda nesta campanha eleitoral. Começa a parecer provável a eleição do ex-primeiro-ministro social democrata sem esforço nem (diria eu) glória — por isso já me decidi, estou determinado a votar da forma que melhor servir para forçar uma segunda volta. Eu preciso de uma campanha com um mínimo de seriedade e esclarecimento. Dir-me-ão os cavaquistas ferrenhos que assim se arrisca a eleição do seu ídolo, mas eu acredito que ou ele é o candidato certo (ou menos errado) e ganha, ou não é. Será?

4 comentários:

Anónimo disse...

Na campanha do sr. Cavaco Silva confundem-se, de facto, os "trunfos" de economista e de ex-Primeiro Ministro com o lugar que se propõe ocupar, no Palácio de Belém. Os srs. Mário Soares e Manuel Alegre, tal como duas comadres zangadas, apunhalaram-se mutuamente, até que perceberam que não seria por esse caminho que os portugueses os escolheriam. Já o sr. Francisco Louçã, que se dirige a algumas das minorias que podem ainda dar votos, parece perdido entre a proclamação ideológica que faz lembrar a história da velha cassete comunista e as verdades de uma actuação política que levanta dúvidas em aspectos pertinentes, tais como (dois casos que me ficaram registados na memória) uma velha história da marcação de ponto na Assembleia da República imediatamente antes de uma viagem de avião para Londres (foi notícia no Tal & Qual) e a ainda recente afirmação arrogante de algo mais do que o simples "solteirismo" de Paulo Portas num debate televisivo com este, quando se falava do aborto. O sr. Jerónimo de Sousa passa despercebido, concordo, mas mesmo assim talvez seja ainda um dos mais honestos com a procura das verdades e também consigo próprio, digo para com os seus princípios pró-comunistas e pró-operariado. E depois sobra só o sr. Garcia Pereira, que volta à carga qual pilha Duracell, para defender ainda a revolução numa versão supostamente adocicada e actualizada, mas já sem força. Os demais caíram pelo caminho, já que as suas candidaturas não foram aceites.
Lembro-me que Cavaco Silva e o seu partido foram afastados por causa da arrogância, da falta de soluções e da sua tomada de "jobs for the boys" que já nem sequer escondiam dos portugueses. Lembro-me do Mário Soares presidente, mas não acho que seja ainda tempo de o escolher. O mundo deu muitas voltas e ele também ficou mais velho. Velho de mais. Queira ou não queira é a fatalidade da vida. Devia aproveitar para gozar o conforto da sua casa e dos milhões que arrecadou (como é normal nos políticos em Portugal, afinal) e deixar-nos escolher um outro futuro. Um futuro novo, moderno e sorridente. Não sei se é o caso com o Manuel Alegre, por graça o único que podemos afirmar que é gay (alegre = gay), mas com ele em Belém o futuro é mais uma incógnita. Ou talvez seja um futuro com referências em 1968, mais concretamente no Maio de então, o que não sei se será suficientemente bom. O resto está fora de hipótese, pelas sondagens e pelas propostas, diria.
Que fazer, face a este cenário? Diria que Cavaco Silva vai ser presidente, o Presidente de todos nós, pois o presidente escolhido será sempre o de todos nós. Mas espero que não o seja à primeira volta. De arrogância já bastou a que nos ficou do passado. Se ele vier a ser o escolhido, que o seja então à segunda volta.
Mas, nesse caso, em quem votar? Por mim não sei, mas aponto três hipóteses: 1) Votar em branco, com a intenção de mostrar à classe política que estamos fartos da sua democracia do salve-se quem puder, do estilo que hoje mama um e amanhã mama outro e está tudo bem... 2) Votar num candidado de segunda linha que, excluindo o velho Soares, terá que ser o pouco menos Alegre... 3) Votar num de terceira linha, estilo prémio de consolação pelo esforço, onde se situam Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Garcia Pereira.
Conclusão? Mário Soares não! Para ele, reforma apenas e que dê umas entrevistas de vez em quando para dizer de si e das suas (ou dos seus, uma vez que a sua república mais parece uma monarquia, com herdeiro ao trono e tudo). Dos outros, que seja o que o povo ambicionar... Se é que este Povo ainda tem alguma ambição!

Anónimo disse...

Olá Rui,
Embora a entrada «elogio da segunda volta» seja da autoria do Gonçalo, o comentário inicial é meu e também fui eu que te chamei a debate. Por isso creio dever ser o primeiro a acolher o teu comentário e a dizer-te antes de mais que satisfaz-me saber que não concordas, pois é da discordância que geralmente saem os debates mais apaixonados e interessantes...
Vejo que, para além de um enquadramento ideológico mais ou menos evidente, mesmo para quem não to conhece — a referência a Deus e a nota à falta de rumo do (pseudo)governo actual —, fico sem entender a que presidente te referes, a não ser que só haja um que não se identifique ideologicamente com quem nos governa hoje e, portanto, te refiras a todos os restantes.
Mesmo assim, e caso o raciocínio obtenha a tua aprovação, por um lado o Gonçalo anteve como provável eleito o "candidato certo (ou menos errado)" Cavaco Silva (mesmo que seja só numa segunda volta) e, por outro, eu defendo que se deve votar em branco ou num candidato diferente de Mário Soares, mas não tomo partido por nenhum e menos ainda pelo Cavaco Silva presidente à primeira volta.
Eu próprio ainda não defini o meu voto. Apenas sei que vou votar e que não lhe darei o xis no primeiro escrutínio. No segundo se veria, mas uma outra questão parece também oportuna neste contexto:
— Sobre nós, sobre o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, entre por exemplo dois amigos teus que queiram formalizar a sua união, com base na igualdade de direitos e na não descriminação por opção sexual, com base na legislação e nos respeito pela Constituição, que diria o presidente que tu escolherias? Já te informaste? Achas que tudo deveria continuar como está, pelo menos por agora? Que só os teus filhos ou os teus netos deverão alcançar esse direito e apenas no caso de termos resolvido os outros problemas que preocupam a Nação? Achas mesmo que eu, ou que tu, ou que qualquer teu amigo ou amiga não deveriam ter desde já, desde sempre, esse direito? Diz-me, sff!
1000 abraços

Anónimo disse...

Olá queridos amigos,

Tenho andado muito ocupado pelo que me desculpem de não ter feito nenhum comnetário até agora.
Prefiro o "talvez" de Cavaco ao "sim" de Louçã e relembro que a iniciativa de legislar é da responsabilidade do governo podendo o presidente vetar, acho que três vezes, o que implicaria uma aprovação posterior via AR. O talvez de Cavaco é cauteloso e implica reflexão sobre o assunto, enquanto que o sim de Louçã pode ser unicamente aproveitador ( relembro a frase dita a Paulo Portas que ao ser confrontado com a sua opinião negativa em relação ao aborto lhe respondeu que ele nunca saberia o que era ser pai;e no dia seguinte veio pedir desculpas formalmente porque se excedeu). E qual será a opinião actual do nosso primeiro ministro que tanto a imprensa o quer ver casado( influência de quem? )
O resto discutiremos na tranquilidade dum serão a quatro, depois de um óptimo jantar bem degustado.
Abraços Rui

Gonçalo disse...

Olá Rui, estás de parabéns, o teu candidato ganhou logo à primeira. Como sugeriste, ficam outros comentários para um jantar, em breve. Abraços.