2006/02/26

gisberta

Ninguém merece morrer assim. Não conheci a Gisberta que, certamente, como todos os seres humanos, teria as suas virtudes e os seus defeitos, os seus sonhos e os seus pesadelos (destes últimos talvez mais do que a maior parte de nós seria capaz de suportar), mas revolta-me a violência que a fez morrer, com que a assassinaram. Revolta-me a violência abjecta com que, cada vez mais, por todo o mundo, se assassinam gratuitamente pessoas. A morte da Gisberta — transsexual, seropositiva, toxicodependente, sem-abrigo, prostituta — tem na base, todos o sabemos, questões muito complexas (miséria e exclusão social da vítima e, não duvido, dos agressores; homofobia; transfobia; vulgarização da violência; crise de valores; e não sei quantas outras anormalidades) que não vou tentar analisar. Mas cada vez que um crime de ódio como este acontece, sinto-me também um bocadinho atingido. Não acho que a Gisberta seja mais vítima do que outras vítimas de crimes violentíssimos e intoleráveis, mas toca-me de uma forma especial a sua morte, porque os preconceitos e fobias que poderão ter motivado os rapazes que a mataram não são muito diferentes dos que, embora em ponto muitíssimo mais pequeno, nos agridem também, homossexuais, nalgum momento das nossas vidas. Fica o retrato da Gisberta, para a lembrar, para nos lembrar. Que descanse em paz.

4 comentários:

Anónimo disse...

Não, ninguém merece morrer assim. Se muitos entendem este caso como mais um de "maricas" (que lhes passa ao lado), há a questão que está para além disso: o/a Gisberta era um ser humano! Perante isso, mais vozes se deveriam levantar contra o que mais parece uma execução dita "involuntária", sem querer. Podem ser estas as desculpas para minimizar o efeito mas, mesmo contra isso, exige-se - a sociedade deve exigir - mão pesada e bem pesada da Justiça. Tanto quanto possível: é que o/a Gisberta já não aceita desculpas de mais ninguém!...

Anónimo disse...

Que justiça? neste país é dificil... Espero que pelo menos alerte as autoridades e que não se repita

Anónimo disse...

Obrigado pelo seu comentário. Lamento ter de concordar, quanto à ausência de Justiça neste e em muitos outros casos que ocorreram e ocorrem no nosso país. E digo-o com mágoa, porque eu próprio perdi tragicamente um ente querido, que não chegou a ser justiçado, sob forma NENHUMA. Governem-se, governem-se, senhores governantes. E, assim, continuem a deixar este país ao proveito dos oportunistas e demais criminosos!...

Luís disse...

Para o Francisco, do Brasil, queremos agradecer a informação que nos fez chegar sobre a «Balada de Gisberta», escrita pelo português Pedro Abrunhosa e cantada pela brasileira Maria Bethania, que se pode ver em http://www.youtube.com/watch?v=_oDWUlFuiCI