2006/10/11

las rosquillas de almodóvar

Demorou algum tempo até que o último filme de Almodóvar fizesse sentido para mim. Mau sinal. Ou talvez não, talvez Almodóvar continue a ser um excelente realizador e eu seja, agora ou desde sempre, um mau espectador. Enquanto via o filme ia analisando a sua construção, o desempenho das actrizes, o esforço do realizador para manipular a imagem hollywoodesca da Penélope Cruz... Mau Sinal. Na minha cabeça um bom filme vê-se com os sentidos e as emoções, as análises formais só vêm depois, de regresso a casa. Achei o filme mau? Claro que não. É bem provável que o bem-amado realizador nunca tenha feito nem venha alguma vez a fazer um mau filme, mas nestes três últimos mastiga-se muito. E a propósito de digestão, repararam-me naquelas rosquillas? A mim fizeram-me água na boca e quando a Carmen Maura disse que queria eu pensei "e eu também!". Quando saí da sala pus-me a pensar se haveria por ali perto algum botequim que vendesse bolinho semelhante. Mas claro que não havia. Depois, já conformado, é que comecei a perceber o filme e como é bonito ver que as pessoas dependem umas das outras e, nos filmes do Almodóvar pelo menos, se ajudam umas às outras. E o Luís vinha emocionado. Bom Sinal.

3 comentários:

Anónimo disse...

"As pessoas dependem umas das outras" e muitas vezes nem se dão quanto. Gostei deste Almodóvar a brincar (seriamente) com a morte, com aquela fantasma (se é que os fantasmas também têm sexo) que se acreditava que o era e afinal não era menos viva do que eu. O mesmo já não o pode dizer desde a noite passada de um vizinho da minha mãe, ainda por cima com a idade Dela. Por isso, hoje preocupar-me-ei mais com os vivos, deixando para amanhã o funeral e afins. Mais logo regressarei à leitura do livro em que "No dia seguinte ninguém morreu", recém-começado. É uma lufa-lufa de emoções...

lucy disse...

quero ver esse filme, mas perdi no festival. agora, dizem, só em novembro começa a passar aqui. almodovar sempre me faz sair com raiva do cinema. mas eu sempre volto.

Anónimo disse...

Neste sábado vimos um outro filme de que a Lucy deveria também gostar: «7 Virgenes», do realizador espanhol Alberto Rodriguez. Passa-se em Sevilha e é a história de dois rapazes marginais, que lutam contra a crueldade do sistema estabelecido mas acabam por ser vencidos pelo seu próprio meio, o marginal. Eu o vi e entendi como havendo também uma grande ligação não assumida entre eles. Duro, mas lindo:
http://www.7virgenes.com/