Vimos ontem o filme que nesta altura não se pode perder: «Um Homem Singular» (no original, «A Single Man»), a primeira realização para o cinema de Tom Ford, que recebeu o Queer Lion na última Mostra Internazionale d'Arte Cinematografica de Veneza.Muito ao contrário de algumas opiniões que fomos lendo, entendemos que a tradução do título do filme para português se presta ao sentido da história e nem sequer nos parece menos correcta do que a opção «Um Homem Solteiro». Tem o filme uma dimensão gay activista? Se a tem, ela está muito dissimulada, muito longe do esplendor que recentemente nos arrebatou «Milk» e nos inspirou ao longo do ano para as lutas mais recentes. Mas isso não lhe tira mérito, nem valor: «Um Homem Singular» é um belíssimo filme baseado num romance de Christopher Isherwood, escrito em 1964, que se desenvolve lentamente, cheio de detalhes, como num bom e saboroso Lynch. Conta-nos a relação de amor entre dois homens, interrompida por um fatal acidente de automóvel, levando a novos sentimentos, a novas relações do sobrevivo, depois a uma tentativa falhada de suicídio e à descoberta da perfeição nas coisas mais simples, nos momentos mais singelos. Nessa simplicidade lenta e bela em que se narra a história vamos aonde não esperávamos ir, somos surpreendidos quando já não esperávamos ser, pois Tom Ford troca-nos todas as expectativas e deixa-nos entregues a um final improvável e, mesmo assim, tocante.
Vimos ontem. Sem sobressaltos. Sem excessos. Inteiramente entregues à história e a cada um dos detalhes eficazmente escolhido para ocupar o seu lugar e o seu momento. Um filme singular, muito bonito, na nossa opinião!
4 comentários:
é muito bom, de facto. e apesar da acção se situar anterior à "dimensão gay activista", há lá activismo suficiente para demonstrar a normalidade dos sentimentos, da atracção, da amizade, da vida e da morte. é uma grande obra de arte, essa é que é essa. singular, sem dúvida e que se vê sem sobressaltos mas com um travo a amargo como o filtro usado na cor. singular. solteiro, também mas menos.
abraços aos dois
(sim, sim, fez 2 anos há dias. e estamos vivos, imaginem)
Singular e solteiro, quase como nós (plurais e solteiros)... Obrigado pela análise e pela nota final - é bom saber e seria bom rever(-vos). Abraços,
Luís e Gonçalo
Mais uma vez um comentário desaparecido, devido, como é hábito à falta ou à má verificação; agora não sei repetir o que lá estava...
É (ou terá passado a ser) um comentário singular!... :-)
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