Há um par de anos ouvi de um amigo algo que não esperava: que a pintura de Francis Bacon faz jus ao seu nome, porque mais parece a retratação de pedaços de carne num talho. Francis Bacon (1909-1992) foi um dos mais inovadores artistas plásticos britânicos da segunda metade do século XX. Nasceu na irlandesa Dublin de Joyce e Wilde, e também ele se dedicou em muito a analisar e interpretar temas polémicos como a sexualidade, a religião, a transgressão do sagrado. A sua primeira exposição aconteceu em 1945, mas nessa época era só de paz que se queria falar. Corpos mutilados, cores carregadas e intensas, traços arrastados, esmagados, caracterizavam a sua obra e tal não era oportuno no momento. Então, como hoje, aqueles quadros provocavam repulsa. Mas a obra deste artista merece sem dúvida ser reencontrada e repensada. Quando tudo à nossa volta perde o sentido no seu mais elevado expoente de beleza tradicional, estes quadros deixam-nos olhar de novo para a pintura. Fazem-nos regressar a uma distância prudente. Dialogar em silêncio, reencontrar-nos com o além e inatingível, como comuns mortais. A imagem é do tríptico «Three Studies For a Crucifixion», que se encontra aqui.Importado do blogue l'avion rose
Sem comentários:
Enviar um comentário