2006/12/31

sexualidade precoce em anthony goicolea

O artista plástico nova-iorquino de descendência cubana Anthony Goicolea nasceu em 1971. A fotografia, desenho, vídeo e instalação são os géneros principais em que se exprime artisticamente este homossexual que se formou pela Universidade da Geórgia. Androgenia e (homo) sexualidade precoce são constantes nos seus trabalhos que podem ser vistos regularmente nas galerias Postmasters (Nova Iorque) e Aurel Scheibler (Berlim). A alemã BMW atribuiu-lhe em 2005 o seu prémio de fotografia, o que mostra que a arte de Goicolea não está assim tão longe da dita normalidade. O seu trabalho desafia os padrões morais por introduzir um erotismo questionável, mas o seu grau de elaboração (que passa pela astuta escolha dos modelos, do vestuário, caracterização e pós-produção informática) obriga a uma apreciação positiva: muitos dos seus retratos são de si próprio, muito jovem em aparência apesar dos seus 35 anos de idade. A artista Cindy Sherman (ver aqui), com quem chegou a fazer várias exposições conjuntas, foi influenciada pelo trabalho de Goicolea, especialmente ao nível do uso extensivo de ferramentas de tratamento de imagem, do auto-retrato e da narrativa de temática sexual. Mas essa será talvez motivo para uma entrada em 2007. Um bom ano!

Importado do blogue l'avion rose

6 comentários:

Anónimo disse...

Não posso deixar de comentar "... (homo) sexualidade precoce são constantes nos seus trabalhos que podem ser vistos..." O que é isto de homossexualidade precoce? É ver dois garotos de sete anos aos beijos e fotografá-los? É um trabalho espontaneo? Ou ele pede aos miudos para se beijarem para fazer fotografias? É uma forma estranha de fazer arte...não!? Não creio que ele tenha muitas oportunidades de o fazer na rua a qualquer hora...e tenho dúvidas que os jardins de infância sejam espaços de eleição para tirar umas cândidas fotos de homossexualidade precoce...
Eu cá tenho outro nome para esses artistas...

Anónimo disse...

Meu caro Manuel: eu também confesso... Confesso que fiquei surpreendido com o seu comentário. Não sei que bicho o mordeu, mas apoio incondicionalmente as suas objecções quanto à sexualidade inominável (pois, a pedofilia, ou até a pederastia por ser mais exacto). É a isso que se refere, não é, diga lá?... Mesmo assim creio que está muito enganado e que deveria ampliar a foto (carregue na imagem e vê-la-á em tamanho grande, com o devido detalhe). Verá que, de facto, os modelos são sempre o próprio fotógrafo, um grandalhão como nós. Mas concordo também que os temas de Anthony Goicolea não são pacíficos, que promovem a discussão, e ainda bem, mesmo que um destes dias a discussão possa passar para uma sala de exposições em Lisboa ou no Porto, por exemplo... A propósito: reparou nos meus votos de um bom ano? Espero que sim, porque eram para si também. Abc,

Anónimo disse...

Caro Luís,
depois da nossa conversa do outro dia vim ver esta entrada no blog e as imagens correspondentes (também vi o site do autor). Isto para poder dizer alguma coisa de modo mais informado e poder de alguma forma prosseguir o debate iniciado antes do cinema de segunda-feira. Vi as coisas ontem e dei um dia para "marinar" as ideias. E então é assim: para mim, o desconforto que sinto reside precisamente naquilo que tu muito bem assinalas como: «O seu trabalho desafia os padrões morais por introduzir um erotismo questionável(...)». Ou seja, sem dúvida que o trabalho de pós-produção das fotos está excelente, mas o objectivo do autor parece-me ser menos um trabalho de pós-produção sobre umas fotos QUAISQUER, mas sim um trabalho de aproveitamento fotográfico de uma temática específica. Designadamente, de fotos que remetem - ou podem remeter - para um imaginário de sexualidade infantil-juvenil (por vezes mesmo carregado de alguma perversidade, como no caso da foto em que um miúdo cospe na boca de outro). Nessa medida, parece-me que há um certo voyeurismo, uma perversidade latente que pessoalmente dispenso. Isto, sei-o bem, é um comentário de ordem ético-moral e nada tem a ver com uma apreciação técnica das fotografias.
Já agora, a foto que ganhou o prémio da BMW é de um estilo totalmente diferente e pode ser encontrada em http://www.e-flux.com/displayshow.php?file=message_1132540972.txt

um abraço
Tiago

Anónimo disse...

Tiago:
É com agrado que encontro aqui a tua participação e agradeço-ta, tanto mais que ela se segue à conversa que tivemos na tarde do passado dia 1, ou seja já depois do Manuel ter comentado, mas antes ainda de eu lhe ter respondido e mesmo de tu teres visto e lido a entrada em questão.
Agora que o fizeste, muito embora entretanto eu tenha já respondido ao Manuel, há novas questões que urge no seguimento esclarecer. Espero disso ser capaz:
- Acredito que onde dizes que é "um trabalho de aproveitamento fotográfico de uma temática específica" quererias antes dizer "um trabalho de criação fotográfica sobre uma temática quase específica". Se entendes a nuance do que eu pretendo sublinhar, entenderás também que "aproveitamento" tem um peso muito negativo e esse não me parece o mais adequado sob a perpectiva da análise criativa, estética, artística;
- Quanto a "alguma perversidade, como no caso da foto em que um miúdo cospe na boca de outro" («Spit or Swallow» imagino), nada haveria a comentar se fosse tratar-se de adultos (e mais uma vez nessa foto todos os modelos são ele próprio, sublinho), ou mesmo se esses adultos que se parecem com miúdos não te fizessem imaginar miúdos de verdade (esse é o lado perverso que eu de facto admito encontrar, mas que não discuto porque a arte - mesmo a clássica - está cheia de exemplos banalizados de retratos questionáveis). É, como dizes, "um comentário de ordem ético-moral e nada tem a ver com uma apreciação técnica das fotografias" ou mesmo com a apreciação artística que, sem a menor dúvida da minha parte, o autor merece pela positiva;
- Fui ver a foto premiada pela BMW mas, como não consegui pelo link que indicaste, aqui sugiro a quem queira ver sob outro prisma que há de facto arte no seu trabalho que faça a consulta pelo Google Images http://images.google.pt/ e pesquise com "anthony goicolea bmw";
- Por último, quem desejar saber por onde tem andado e anda desde 2003 a arte de Anthony Goicolea, poderá consultar www.photography-now.com/artists/K06713.html ou então procurar os seus livros por aí, que também se vendem e nem sequer é em sítios proíbidos: vejam na Amazon ou na Fnac, por exemplo.
Num país defensor da liberdade e da pluralidade democrática, a arte de Anthony Goicolea deverá ser sempre acolhida da mesma forma que a de outros artistas. Seguramente será sempre arte polémica, que perturba mais a uns do que a outros, mas não me parece que haja nela seja o que for de ilegal. "O seu trabalho desafia os padrões morais por introduzir um erotismo questionável..." e basta talvez repetir aqui este meu texto incluído na entrada original para fazermos um ponto final.
Obrigado (Manuel e Tiago), uma vez mais.
Abcs,

Anónimo disse...

A quem possa ainda interessar, eis mais um capítulo da mesma novela: http://casadeosso.blogspot.com/2007/01/anthony-goicolea.html#comments

(Obrigado, Valter Hugo.)

Anónimo disse...

PS - Há obras de Cindy Sherman em Serralves, na exposição «Anos 80»...