Tenho um interesse especial pela música contemporânea que, como acontece com as artes plásticas, parece despertar em muita gente a mais viva desconfiança. E porque carga de água haveria eu de me interessar por um Alban Berg (que, diga-se de passagem é já um clássico) quando o Verdi me passa ao lado? Há gente maliciosa que acredita que é por pretensão mas, tal como a água benta, digo em minha defesa que dela tomo muito pouco. Fascina-me a dissonância, talvez, um certo espírito de defesa da diferença e a ambiguidade implícita na dicotomia clássico/contemporâneo. Por uma qualquer razão que desconheço, as pessoas parecem aceitar melhor, apesar de tudo, a contemporaneidade na arte (plástica) do que na música, mas as razões para isso, das neurológicas às culturais, são demasiado complexas para aqui e para mim. Há duas peças fundadoras em particular que me apaixonaram e introduziram no mundo da música moderna: o «Pierrot Lunaire» de Schoenberg (que a Sociedade Porto 2001 não deixou que eu visse o Pierre Boulez a dirigir) e a «Sagração da Primavera» de Stravinsky. Esta última, obra prima incontestada da música do século XX, que enfureceu o público na sua estreia, vai ser apresentada em concerto na Casa da Música pela Orquestra Nacional do Porto, no dia 16 às 21h00, em conjunto com obras de Richard Strauss e Sofia Gubaidulina. Recomendo (passo a pretensão) vivamente a compra de um bilhete, e se a música não for motivação suficiente, há ainda a razão filantrópica de última hora, porque a Casa da Música resolveu oferecer o concerto à Abraço.
2006/12/08
a sagração
Tenho um interesse especial pela música contemporânea que, como acontece com as artes plásticas, parece despertar em muita gente a mais viva desconfiança. E porque carga de água haveria eu de me interessar por um Alban Berg (que, diga-se de passagem é já um clássico) quando o Verdi me passa ao lado? Há gente maliciosa que acredita que é por pretensão mas, tal como a água benta, digo em minha defesa que dela tomo muito pouco. Fascina-me a dissonância, talvez, um certo espírito de defesa da diferença e a ambiguidade implícita na dicotomia clássico/contemporâneo. Por uma qualquer razão que desconheço, as pessoas parecem aceitar melhor, apesar de tudo, a contemporaneidade na arte (plástica) do que na música, mas as razões para isso, das neurológicas às culturais, são demasiado complexas para aqui e para mim. Há duas peças fundadoras em particular que me apaixonaram e introduziram no mundo da música moderna: o «Pierrot Lunaire» de Schoenberg (que a Sociedade Porto 2001 não deixou que eu visse o Pierre Boulez a dirigir) e a «Sagração da Primavera» de Stravinsky. Esta última, obra prima incontestada da música do século XX, que enfureceu o público na sua estreia, vai ser apresentada em concerto na Casa da Música pela Orquestra Nacional do Porto, no dia 16 às 21h00, em conjunto com obras de Richard Strauss e Sofia Gubaidulina. Recomendo (passo a pretensão) vivamente a compra de um bilhete, e se a música não for motivação suficiente, há ainda a razão filantrópica de última hora, porque a Casa da Música resolveu oferecer o concerto à Abraço.
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4 comentários:
Olá Gonçalo
é tão salutar haver diferença de opniões, gostos diversos, o mundo fica mais equilibrado.
Só não aceito a intolerância.
É por isso que te venho expressar que NUNCA me entendi com a chamada música contemporênea, mea culpa, mea culpa...
Não a entendo, noto-lhe falta de melodia, é para mim uma amálgama de sons, que por vezes acho interessante e nada mais.
Prefiro Verdi, perdoa-me.
Um abraço e bom fim de semana.
Olá pinguim,
espero que não tenha passado no meu texto qualquer ideia de intolerância, porque estaria longe da minha intenção. A única crítica que pretendi passar é às pessoas que por não gostarem e/ou entenderem a música contemporânea acham que mais ninguém pode genuinamente gostar ou entender. E acredita que as há aos montes. Quanto ao Verdi, ou o Chopin (acrescento já agora), acredito que ainda não tenha tido a minha 'epifania' :-)
Abraço também e bfs.
Podes estar descansado, não notei qualquer intolerãncia no teu texto.
A minha opinião, após o concerto: Richard Strauss foi muito interessante, misturando o classicismo da valsa com uma envolvência muito actual; Gubaidulina foi surpreendente, pois gostei mais de a ouvir em concerto do que já gostava em disco; Stravinsky foi vibrante, mesmo tendo por referência uma diferente interpretação em disco, e apetece repetir. A presença da Abraço quase não se notou, para além dos pequenos lacinhos vermelhos que nos entregavam à entrada. Não sei muito bem para quê serviam (ou quem serviam), mas eu lá coloquei um pela primeira vez (julgando que estaria mais certo demonstrar ser solidário, num momento daqueles)...
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